Confesso que tem sido difícil diluir a mágoa provocada pela descida de divisão. Para nós, não é sentimento novo, infelizmente, mas uma pessoa nunca se habitua a estas coisas.
Quando algo mau acontece na nossa vida, há sempre quem nos aconselhe a ver as coisas pelo lado positivo. A intenção é a melhor, sabemos, mas esta frase feita, por vezes gasta e previsível, quase sempre é tudo aquilo que não queremos ouvir, muito menos de cabeça quente.
Mas desta vez não. Desta vez quis acelerar o processo de cura e tentar de facto ver o lado positivo disto tudo. Reuni aquelas que são, para mim, algumas das vantagens de regressar à Segunda Liga. Partilho-as convosco, para convalescermos em conjunto.
- Participar num campeonato mais competitivo. Não é novidade que a Primeira Liga é das mais previsíveis da Europa. O título disputa-se a dois, tal como o terceiro lugar. Três ou quatro equipas têm condições para lutar pelos lugares europeus e o resto luta para não descer.
No entanto, a Segunda Liga não é bem assim. O equilíbrio é muito maior. Poucos pontos separam os lugares cimeiros dos postos inferiores da tabela. Duas vitórias de seguida podem colocar uma equipa no pódio e duas derrotas complicam as contas da manutenção. Um campeonato intenso e altamente exigente que vale sempre a pena acompanhar.
- Voltar a ter a chance de ser campeão. Na Primeira Liga jamais teríamos hipótese de lutar pelo caneco. Com a descida, renovam-se as hipóteses de guarnecer o museu — esse que teimamos em não ter —, abrilhantando o palmarés do clube.
- Afastar quem não (se) interessa. A Primeira Liga é um clássico chamariz para os adeptos de ocasião. Sempre que o Portimonense sobe, muitos são os que se fazem sócios na perspectiva de poder ver jogar em Portimão o seu principal clube, ignorando o facto do Portimonense precisar do apoio de todos também, e sobretudo, quando está na mó de baixo. Não vou dissertar de novo sobre as questões morais do bi-clubismo e suas consequências, mas o importante é que durante a próxima época registar-se-á uma redução de “interesseiros” no estádio.
- Voltam os jogos ao domingo à tarde. Ok, há aqueles jogos às 11h15 por causa das transmissões na SportTV (que serão em maior número se o Portimonense estiver nas posições superiores da tabela), mas também se acabam os jogos à sexta e à segunda à noite. Jogos ao fim de semana à tarde é o contexto com que quase quase todos nós crescemos. São horários que fomentam um ambiente familiar, convidam os pais a trazer os filhos à bola e podem semear futuros adeptos. Além disso, também reduzem o transtorno a quem quer ir ver os jogos fora.
- Renovar as oportunidades de aproximação à massa adepta. Este último ponto roubei ao Gonçalo Gomes, que além de contribuir aqui no Blog do Portimonense, escreve para o seu projeto pessoal, Diário de um Portimonense. Uma descida de divisão implica sempre a perda de importantes fontes de receita, seja de transmissões televisivas, seja de patrocinadores, seja de adeptos.
Mas esta última não tem necessariamente que ser assim. Já vários exemplos comprovaram que, quando o clube procura e comunica bem com o seu público, os adeptos tendem a responder à chamada. Fazer com que os adeptos se sintam desejados pelo clube não é tarefa fácil, sobretudo porque o clube há décadas que não cultiva esse objectivo. Mas com algumas medidas práticas e uma campanha transparente é possível voltar a fazer do Portimonense um clube com uma massa adepta maior e mais consolidada, o que é uma importante valia para quem quer voltar ao convívio dos primodivisionários o mais rápido possível.